Pode-se dizer que 2021 é o ano de Tonheca Dantas (1871-1940). O ilustre compositor e maestro potiguar completou no último dia 13 de junho, 150 anos de nascimento, em Carnaúbas dos Dantas, de onde sua obra saiu para o mundo. O músico foi homenageado com estátua, selo e, graças a ele, a cidade recebeu o título de “Terra da Música”, um reconhecimento do estado à vocação musical do município. Bem mais que uma simples efeméride, o momento é de conhecer e apreciar melhor a música do autor de “Royal Cinema”.
A emissão do selo comemorativo pelos Correios foi uma forma de ressaltar
a importância e resgatar a história de Tonheca Dantas. O desenho é de autoria
de Francisco Iran e a fotografia de Evaldo Gomes. O selo é composto pela foto
do maestro, que tem ao fundo a partitura da valsa “Royal Cinema”, e a
ilustração de um de seus instrumentos, o bombardino. A folha é composta por 12
selos e apresenta uma vinheta com destaque ao aniversário de 150 aos do músico.
A tiragem foi de 120 mil exemplares.
Já a estátua foi posta na entrada da cidade, com assinatura do artista
plástico Guaraci Gabriel. A escultura tem cinco metros de altura, em um
pedestal de três metros. A imagem mostra Tonheca segurando uma batuta que se
move com o vento, similar a um pequeno móbile. A obra é feita de ferro,
com a técnica da “extensibilidade”, que virou marca registrada de
Guaraci. Consiste em desenhar a imagem a partir do estêncil, aplicação de tinta
num corte ou perfuração em papel ou acetato. Um método comum entre os
grafiteiros, que Guaraci adaptou para fazer suas esculturas com figuras
humanas.
Até o Vaticano – sem querer – homenageou Tonheca Dantas. No última dia
de Corpus Christi, celebrado no três de junho, o estado católico apostólico
romano executou a “Tantum Ergo”, uma das peças do maestro potiguar, cuja letra
é de São Tomás de Aquino, que compôs os versos em 1264 para a primeira Festa do
Corpus Christi, instituída pelo Papa Urbano IV durante aquele século da Idade
Média.
Gênio autodidata
Carnaúbas dos Dantas ainda se chamava Carnaúbas de Baixo quando Antônio
Pedro Dantas veio ao mundo, filho de um tenente-coronel e de uma ex-escrava
alforriada. Autodidata e intuitivo, Tonheca Dantas fez parte de várias bandas
militares, tocando os mais variados instrumentos. Em 1898, foi contratado como
maestro da Banda de Música da Polícia Militar do RN, além de ter sido regente
da Banda de Música do Corpo de Bombeiros, em Belém do Pará, em 1903.
As composições do maestro ficaram conhecidas dentro e fora do Brasil. O
seu maior sucesso foi “Royal Cinema”, apontada pelos pesquisadores como sua
mais notável produção e tocada até durante a Segunda Guerra Mundial pela Rádio
BBC de Londres – infelizmente, creditada a um "autor desconhecido".
Muitas outras composições de Tonheca foram tocadas por orquestras ao
redor do mundo, como as valsas “Delírio” e “A desfolhar saudades”. Apesar de
ter ficado mais conhecido pelas valsas, ele também compôs maxixes, xotes,
polcas, marchas, dobrados, e até hinos. Tonheca faleceu em Natal, aos 68 anos
de idade, no dia 07 de fevereiro de 1940. Uma sala do Teatro Alberto Maranhão
recebeu seu nome, a primeira de suas homenagens.
FONTE TRIBUNA DO NORTE