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TONHECA DANTAS, AUTOR DA VALSA ROYAL CINEMA, CONHECIDA INTERNACIONALMENTE; PATRONO DE MEDALHA E DA COMPANHIA DE MÚSICA DA PMRN

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

RELEMBRANDO TONHECA DANTAS

 


CLAUDIO GALVÃO
[SÓCIO DO IHGRN E BIÓGRAFO]

 

O valor pessoal, em qualquer modalidade artística, afirma-se muito mais pela permanência na memória popular que por uma projeção momentânea, muitas vezes comercialmente manipulada. Os novos “artistas” da área musical têm, em geral, rápida ascensão, mas em breve se tornam estrelas cadentes. Os recursos técnicos atuais lhes proporcionam rapidamente altos rendimentos financeiros e extensa popularidade. Entretanto, muitos grandes, autênticos valores, tiveram existência modesta, mas legaram à posteridade obras e exemplos de vida dignos de admiração e respeito.


O Rio Grande do Norte tem um exemplo notável na vida e obra do musicista Antônio Pedro Dantas, nascido em Carnaúba dos Dantas em 13 de junho de 1871, (conforme declarou em entrevista ao pesquisador musical Gumercindo Saraiva, publicada neste jornal nos dias 26 de maio e 2 de novembro de 1974), falecendo em Natal, em 7 de fevereiro de 1940.

A vida de um artista, músico instrumentista ou compositor, sempre recebe a influência do meio em que viveu. Tonheca (apelido familiar comum para os que se chamam Antônio) passou sua infância e adolescência numa pequena cidade do interior seridoense. Nenhuma escola, nem de letras e muito menos, de música. Tudo se aprendia em casa, com os parentes mais velhos. Já em sua infância recebia a influência de seus irmãos, todos músicos amadores, que tocavam em festas e na igreja, tanto do local como do Acari, a cidade maior mais próxima.

Evoluindo para Natal, o jovem Tonheca prestou concurso para regente da Banda do Batalhão de Segurança (a Polícia Militar, na época) no ano de 1898. Logo para regente? Pretensão, autossegurança, predestinação? No momento do concurso esnobou da comissão julgadora, quando lhe perguntaram qual instrumento queria escolher, respondendo: Qualquer um. O senhor diga qual o que quer. E foi tocando a difícil partitura da prova nos diversos instrumentos da banda. Primeiro lugar, com vinte oito anos de idade, sem haver estudado em uma escola de música! Regente da banda de música mais importante do Estado! Como chegou a esse ponto?

A vida de Tonheca Dantas lhe impôs momentos de dificuldades financeiras associadas a êxitos em sua carreira, principalmente como compositor. O autor desta página, que teve a felicidade de escrever e publicar o livro “A desfolhar saudades – uma biografia de Tonheca Dantas” (1998) e “Royal Cinema – uma valsa centenária” (2014), estudou cuidadosamente a vida do musicista e procurou assegurar-se de seu legado. Foram feitas pesquisas em Natal, cidades do Seridó, João Pessoa, Alagoa Grande, Alagoa Nova e Areia, na Paraíba, e em Belém, onde o músico residiu de 1909 a 1913, integrando a Banda do Corpo Municipal de Bombeiros do Pará. A biografia citada registra sessenta e quatro composições, muitas delas perdidas. Considerar-se Tonheca como autor de mais de mil composições parece exagero e não pode ser comprovado. Pouco adiantaria um grande número sem uma grande qualidade. Extrapolando o seu rincão, está presente em quase todas as bandas de música do País. Sua “Royal Cinema” partiu do velho cinema da Rua Ulisses Caldas, sendo tocada até na BBC de Londres, em seu programa para o Brasil durante a 2ª Guerra Mundial. Seus vibrantes dobrados são presença constante em orquestras e bandas de música, civis e militares.

Há um quê de saudosismo nas belas melodias de Tonheca. Ele mesmo deve ter sentido isto, quando nomeou uma de suas valsas como “A desfolhar saudades”

FONTE – TRIBUNA DO NORTE

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